terça-feira, 24 de julho de 2007

Rocky Balboa


O início da música, como sempre, é de arrepiar. A introdução de Rocky, famosa, é uma espécie de biografia do campeão, todos os campeões, no rompante brusco capaz de abduzir o ouvinte. O meio dela é previsível e sempre igual, talvez de propósito: é uma dissertação sobre o ritmo frenético das sequências cada vez mais cruéis em que um Stallone,  suando em bicas,  mostra todo seu vigor com anilhas cada vez mais pesadas. Batendo em sacos, em quartos de boi pendurados por ganchos no frigorífico onde trabalha o cunhado Paulie (Burt Young) ou correndo com o melhor amigo "soco" - sim este é o nome do cachorro que o bom coração salva de um abrigo para animais da cidade - Rocky nos incita ao movimento. De repente a música termina e, tão bruscamente como começou, deixa o espectador do treinamento em suspense: é hora da luta.

Assistir Rocky Balboa foi uma bela experiência. Embora a crítica tenha rido dos trailers , Sylvester Stallone se supera mais uma vez pelo coração que toma conta da fita. Stephen Holden (The New York Times, 20/12/06) refere-se a uma fábula (veja) e é exatamente o que se passa na história do sexagenário bi-campeão mundial dos pesos pesados, dono de um restaurante mais ou menos famoso no mesmo bairro de sempre, agora totalmente depredado e dando a exata idéia de que o tempo passou para ambos: a vizinhança e Rocky Balboa. Talvez a eficiência do enredo esteja neste detalhe; o lutador jaz no passado e os tempos são outros. Por essa razão é que temos a nítida impressão de que o garanhão italiano, como a fênix grega, renasce das cinzas.

O lutador durão não esconde a ternura. "É cheio de coração". A história se arrasta por um bom tempo e parece que é de propósito. Entre o início aparentemente despretensioso e o final comovente, há um meio de filme que mostra um homem duro com um "porão" abarrotado dos sentimentos mais confusos possíveis. É a história de todos nós, acho. Ao entrar no cinema, mesmo que de nariz torcido para o grandalhão de boca torta, talvez não se desconfie que haverá uma identificação positiva com a personagem (veja).

Já diziam que a vida imita a arte e a arte imita a vida. Há paralelo, há relações estreitas entre o real e o imaginário. É, meus amigos! Não há como escapar de nossas próprias dores ao assistir Rocky apanhar na cabeça para provar a si mesmo que continua vivo. A cena mais comovente se passa no encontro do ex-campeão com seu cunhado. Ao perguntar a Rocky o que se passa dentro de seu peito Polie provoca lágrimas na montanha de músculos - e nos que assistem à cena também. Eu chorei... só um pouquinho! Chorei um tantinho mais quando um lutador moído pelas experiências, em uma discussão com o filho medroso, diz que a vida bate duro...

A música famosa faz juz à nossa expectativa de vencer em meio às dificuldades, assunto tão batido quanto a religião da auto-ajuda. A única coisa a lamentar é a ausência total de Deus nessa história. Sem Ele nenhuma de nossas lutas faria sentido.

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