Ela correu para os braços fortes e quentes do pai. Aquele abraço era infalível, tinha o poder de desaparecer com qualquer medo.
Não foi o primeiro tombo. Queria aprender a andar de bicicleta, presente de sete aninhos, brinquedo que teimava em não ficar de pé. Um dia irá aprender na escola algo sobre gravidade, ouvindo a história da maçã de Newton.
Enxugou as lágrimas, como de costume, com aquele lado grosso da mão. A hesitação ia dando lugar à confiança.
O elo dela com o papai sempre foi forte.
Sentia-se segura quando embalada pela voz grave do velho naquelas longas noites de delírio febril. O colo poderoso do seu gigante gentil foi, por inúmeras vezes, a única fonte de abrigo e consolo.
Ambos bastavam-se.
Era sempre prazer mútuo, momento quase mágico, daqueles onde cria e criador parecem fundir-se em uma só pessoa.
Ele sempre percebeu o longo olhar da menininha fitando os doces da venda.
Ela deveras o chantageava com aquele par de jabuticabas.
Então o caminho da escola floria em sabores e cores. Fazer o quê?
Lembranças do dia de chuva, voltando da aula, a bota encharcada e a filha no colo. Sequinha. O gigante amoroso não media esforços. E suspirava nas horas intermináveis da fábrica, contando os minutos para tê-la nos braços novamente.
Quanto trabalho e salários recebidos. Suor derramado e o tempo passando.
Como qualquer pessoa a menina cresceu, formou-se, casou.
Hoje a mulher olha para trás e o que sobra são doces lembranças, vistas como que em um filme antigo e longo em todas as rugas do rosto do velho ali velado. Ali pertinho. Tão longe.
Aquelas lágrimas não seriam mais enxutas.
Ele dizia sempre: “a vida é curta, filha”.
Ela nunca quis acreditar.
terça-feira, 26 de maio de 2009
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