Para cada 100.000 brasileiros, 4 suicidaram-se em 2008. A média, segundo a Organização Mundial da Saúde, ficou entre 3,9 e 4,5.
Não quero questionar nem tão pouco tentar encontrar razões para o suicídio. Tenho certeza de que a maioria da população mundial em todos os tempos, mesmo que não tenha pensado nele seriamente, cogitou, mesmo que de longe, a possibilidade de partir dessa para melhor.
Calma, não quero fazer apologia a Jin Jones. Acho que apesar dos pesares vale a pena viver.
E os pesares não são questões mínimas e idiotas como contas, violência, falta de perspectiva econômica e social ou os políticos, por exemplo. O pesar maior é não saber de onde viemos, por quê estamos aqui e para onde vamos. E não tente explicar, não quero ouvir.
Mas se viver vale a pena, não é o que acham, ou melhor, achavam, os 38 "índios" dos municípios de Tabatinga, Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá, Amaturá, São Paulo de Olivença e Tonantins, todos no Amazonas, que se suicidaram no ano de 2008.
Segundo dados do Distrito de Saúde Indígena (Dsei) do Alto Solimões a taxa de suicídio dos povos indígenas é, simplesmente, oito vezes maior que a média nacional.
Para Carlos Coloma, gerente do Programa de Saúde Mental da Funasa, dentre as principais causas para o suicídio indígena vamos encontrar duas bem importantes:
1 - Questões culturais: "A morte tem um sentido diferente para os indígenas em comparação à cultura ocidental. Para muitos povos, morrer significa passar para outra vida. Isso pode ser uma das justificativas culturais para a prática."
2 - Questões sócio-econômicas: "...falta de perspectivas para o desenvolvimento pessoal e profissional desses indivíduos."
Com todo o respeito ao sr. Carlos, fico só com a segunda.
Vamos lá, pensa direitinho. Pensar não dói e é de graça.
Por mais que pese a cultura e a crença fixa na vida após a morte ninguém é tolo de tirar a própria vida e deixar para trás os prazeres da modernidade.
Aí é que mora a questão. Índio não tem prazer da modernidade.
Não tem porque o "homem branco" insiste em encafuá-lo em aldeias no meio do mato tentando reviver os dias em que a tropa do Cabral deu o ar da graça por aqui, trocando pente por ouro.
Índio tem mais é que vir para a cidade grande, aprender o português, andar de ônibus, abrir lojinha, fazer MBA, passear no shopping, chorar de raiva no trânsito caótico de São Paulo, ser assaltado, pagar conta de luz, pegar gripe e arrumar um atestadão do convênio médico pra ficar em casa, comer carne de boi congelada, ver TV a cabo, se acotovelar no meio de cinquenta mil pessoas para assistir a um jogo de futebol, ser enterrado em terras brancas no meio de um monte de brancos e deixar descendentes que continuem sua trajetória.
Ah! Ir ao rodízio. Índio tem que conhecer o rodízio. De carne, não de automóveis.
Fala a verdade. Você gostaria de morar no meio do mato, sem ducha quente, sem dentista, supermercado e cerveja gelada? Você se adaptaria a picadas de pernilongo sem repelente, a andar no barro com os pés descalços, a tomar banho frio no rio cheio de piranhas?
Claro que não!
Então por quê essa ideia idiota de manter o coitado do "índio" (esse nome só existe porque os idiotas dos navegadores europeus acreditaram ter chegado nas Índias quando aqui aportaram) onde nenhum homem branco se atreveria a morar?
Sem celular, video-game e computador?
Sem mp3, cinema e praça de alimentação?
Eu também me mataria.
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6 comentários:
Fernando, sou fã incondicional do que escreves... com humor e inteligência, de maneira leve e absorvente.
Não pára,não pára,não pára, nunca.
Júlia
... e só um pequeno detalhe:
sem shopping "Eu também me mataria" ... como isso é possível????? kkkkkkkkkkkkkk
Júlia
Ualll...
Como alguém consegue escrever de uma maneira tão clara sobre um assunto tão obscuro (suicidio).
Esse alguém que consegue só poderia ser o mais ilustre dos F altos que conheço!
Fê...não sei,ainda tenho dúvidas... talvez eu gostaria de ser uma india! =/ Mundo moderno muito violento!
Silizi, mundo moderno é violento, mas tem shopping, money, televisão, cinema, e ascenção social. O índio não tem isso.
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