Mandar o moleque desligar o computador ou a menina ir tomar banho pode se tornar uma tarefa hercúlea, mais difícil que trocar pneu de caminhão. Falo uma vez, falo duas vezes, vou falando, falando, falando e os pestinhas, como se habitassem outro planeta ou outra dimensão, não movimentam um músculo.
Quando criança, no interior de São Paulo, numa cidadezinha quase sem recurso mas com uma vida maravilhosa - céu bem azulzinho, muito verde e ruas de terra - me lembro de levar uma vida sem contato com as maravilhas da vida moderna. Televisão só na casa do vizinho, o seu Nego, e ainda em preto e branco. Telefone não sabia que existia. Internet? Que bicho é esse? Nem sonhava com máquinas de calcular, sequer computadores (em idade pré- escolar, nada sabia sobre o mundo dos números, cálculos e fórmulas). Quanta diferença em relação às crianças desse nosso mundão pós-moderno.
A arte da guerra! Os exércitos espartanos bateriam em retirada. Tirar a criança de seu mundinho particular é uma batalha travada diariamente entre pais e pentelhos. As tarefas comuns como tomar banho, arrumar o quarto ou a mesa e guardar os brinquedos tornam-se motivo para eternos combates entre os dois irmãos. A pequenina, ali, de olhos fixos, assistindo "o segredo dos animais" pela quadragésima oitava vez. O maiorzinho, lá, tal qual uma estátua de mármore, imóvel, petrificado pelo bate-papo com o primo pela Internet. Me pergunto: qual será o desenrolar dos fatos? Onde chegaremos? Qual a medida dos limites?
Teorias mil foram elaboradas nas bilhões de obras que existem hoje e que tratam sobre a criança e o adolescente. Lugar não falta, basta procurar. Tem blog de psicólogo, sites de entendidos no assunto, conteúdos gigantescos desenvolvidos para pais que não sabem mais o que fazer para colocar limites em certas atividades prazerozas e que estão na moda.
Proibir? Impôr limites?
O mundo virtual ainda é muito novo - e jovens os seus utilizadores. Não dá pra dizer que uma hora diante do computador é muito. E há as receitas que li numa revista famosa alguns dias atrás. Limite, limite, limite. Quinze minutos de "Internet" para cada filho por dia. E tudo monitorado.
Concordo quanto à monitoração. Não há o que discutir quando o assunto é segurança. Histórias escabrosas do mundo virtual são mais do que suficientes para arrepiar todos os cabelos dos pais de internautas mirins. Agora, quinze minutos diários? É muito pouco! Palavra de internauta e blogueiro iniciante. É como levar os filhos para o parque e dizer: "olha, vocês têm vinte minutos para correr, dez para empinar pipas, cinco para andar de bicicletas..." E assim vai, nessa batida.
Dilemas. Muitos deles. Como "educador liberal"- alcunha que expressa um pouco do que penso sobre o assunto - espero não tirar muito do meu filho quando lhe pedir que desligue o computador. Bem sei o quanto me custaria se os conhecimentos adquiridos na interação com essa famigerada máquina me faltassem hoje.
Tem pai acreditando, hoje, que aprendizado se dá em banco de escola apenas. Ignoram as habilidades cada vez mais necessárias que podem ser desenvolvidas com o uso o computador: escrever, ler, pesquisar, descobrir. E o mais importante: ter ciência das possibilidades ao alcance de seus dedinhos e saber usufruir delas.
Vai tomar banho! Vai arrumar o quarto! Desliga esse computador!
Calma papai e mamãe. Seu filho não corre o risco de se tornar uma extensão da máquina. Ele está apenas aprendendo; e aprendendo de uma forma divertida, interativa e autônoma.
Quinze minutos de Internet por dia é pouco, realmente muito pouco.
Ah! Eu trocaria duas horas de terra nas canelas, no interior, por um minuto de MSN com aquela vizinha que eu admirava tanto...
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