segunda-feira, 29 de junho de 2009

Corta as mitigações: o problema da educação é berço.

Depois de alguns meses voltamos a trocar e-mails. A galera da turma de História da Unicsul voltou com a corda toda. Convites para aniversários, chamadas para a virada cultural, desabafos, lamentações sobre a morte de Michael Jackson, um que arrumou emprego, outro que viu de perto os enfrentamentos na greve da USP. Desde que a cambada se formou não víamos tanta produção textual. E na produção textual levantou-se uma questão que me chamou a atenção - novamente.

A questão veio no e-mail onde o Paulo anunciava à trupe de licenciados em História a alegria que era passar em um concurso da Prefeitura. O Paulo sempre foi meio caxias, meio cdf, o bonzinho da turma. Gostava de fazer os trabalhos com ele, a gente se entendia bem. Vez ou outra eu fazia uma parte voltada para tecnologia e ele fazia início e fim. E assim conseguimos um elogio do (como era mesmo o nome daquele professor?), bem deixa pra lá.

Mas a questão (voltando à questão) é que eu disse ao Paulo estar meio sem palavras, meio desprovido de minha habitual prolixidade, sem ter o que dizer. E disse duas coisas que me vieram à cabeça. A primeira delas era simplesmente tecer elogios aos esforços do Paulo. Passar em concurso não é fácil, mano véio! A segunda era lamentar que professores formados em um bom curso de História estejam, hoje, jorrando seus talentos (isso mesmo, jorrando) para fora da bacia. Calma, não me interpretem mal, eu explico.

Explicação:

Não tá dando pra dar aula, nem a pau!

Pode vir com aquele papo imbecil de mudar a cabeça deles, fazer com que eles enxerguem e aprendam responsabilidades, ajudar a construir saberes e blá blá blá, milhões de blás.

Guardem o blá blá blá para suas hipocrisias paranóicas porque só quem foi peitado dentro de sala de aula por marmanjo traficante de drogas sabe o quanto é perigoso colocar o valioso esqueleto naquele ambiente hostil (nem a savana africana é tão hostil, nem o Afeganistão). O histórico é o seguinte: depredação do patrimônio público, depredação do nariz do professor, depredação da saúde alheia e tome depredações. E tome, ainda, palavrões, ameaças, desaforos, intrigas e desmandos. As direções de escolas não podem fazer nada. E quando podem ficam do lado do infrator. Professor bom é aquele que abaixa a cabeça para os xingamentos do aluno e para a arbitrariedade do diretor. Esse é o professor bom. Bom e trouxa.

Qual a saída para a educação então? Talvez a saída seja o que faço em casa. Eu converso com meus filhos, brinco com eles, dou carinho, imponho limites, exijo respeito, respeito-os, dou tarefas de casa, dou algumas coisa que querem, nego tantas outras, explico a realidade de forma crua. Tudo isso sem um tapa sequer, um puxão de orelhas (abomino puxar orelha - só pode no aniversário e bem devagar, com bolo e refri). Fui criado assim também. E não trafiquei, não xinguei professor, não depredei patrimônio público nem nariz de professora. Tinha minhas rusgas? Tinha lá, sim, minhas rusgas, mas foram tão poucas e tão educadas que seriam dignas de um lorde inglês comparadas às atrocidades, devastações, vandalismos e assolações promovidas pelas turbas de "alunos", famosas no noticiário nacional.

E sabe porquê? Porque tive berço.

Cresci um bom aluno porque tive berço.

Um comentário:

Anônimo disse...

cdf?, caxias?, bonzinho da turma? Caramba!!!!!.

Me lisongeia ter sido inspiração para seu texto.
No meu local de trabalho tem uma senhora que todo mundo diz que tem problema de cabeça....Ela foi professora durante muitos anos.

É isso.....

Paulo