terça-feira, 21 de julho de 2009

Como Coca e Pepsi

Um dia, voltando do trabalho, desci a escada rolante (para muitos é volante) e dei de cara com um sujeito vestido de alguma coisa entre Michael Jackson e Wolverine. Outro dia, fazendo o mesmo caminho, dei de cara com o mesmo sujeito, novamente caracterizado da mesma coisa. Alguma figura que não era ele próprio, era outro, ou outros. Fiquei pensando (gosto de fazer isso de vez em quando).

Fiquei pensando que as pessoas gostam de não ser elas mesmas. Eu ser eu e você ser você parece um tanto chato, sem brilho, falta energia, falta o glamour das telinhas e das telonas, o charme das revistas de fofoca, a notoriedade dos jornais.

Ser apenas nós mesmos não é pra todo mundo não. Não são todos que aguentam. O papel de nós mesmos cansa, ninguém nos vê, não somos percebidos apesar do tremendo esforço para aparecer. Ser nós mesmos nos faz sentar na cadeira do anonimato, nos coloca no cantinho escuro, frio e sem graça do comum, o lugar comum feito para gente comum. Aliás, de repente não são os lugares comuns que foram feitos para pessoas comuns, mas pessoas comuns é que deixam os lugares comuns. Acho que é isso.

Bem, o Michael-Wolverine do final da escada rolante (volante!) me deixou pensativo sobre o grande esforço que muitas pessoas fazem para sair - tentar, pelo menos - do lugar comum na tentativa de ser - ou tentar ser - pessoas menos comuns. É aquele tipo de comportamento de multidão que leva todo mundo a fazer alguma coisa meio sem sentido só porque todo mundo está fazendo. É como sair pelas ruas gritando "Diretas Já!" sem saber bem o que tal reivindicação reivindica ; sem saber mesmo o que é reinvidicação e para que serve uma. Fiquei pensativo sobre o rei do pop (que a eternidade o tenha) ou o Wolverine, ali, os dois juntos, fundidos em uma só pessoa comum... pegando trenzão com vale transporte, o famoso "VT". Porque VT é coisa de gente comum. VT, VA e hora extra, tudo coisa de gente comum.

Tem cabimento o Michael Jackson em pleno horário de pico na Estação da Luz, todo estiloso, pegando o ferrão pago com benefício de proletário e dirigindo-se para uma casinha sem reboco externo da periferia de uma cidade de terceiro mundo? (Especialistas dizem que não é mais terceiro mundo. Dizem porque não conhecem Itaim Paulista ou Jardim Ângela).

Não. Não tem cabimento uma pessoa não-comum fazendo coisa de gente comum. Os imortais não-comuns que são as estrelas da música, do cinema ou da política são imitados na forma de falar, no gestual, na roupa e até no jeito de andar. Só que pára por aí e a vida continua. A vida do comum e a vida do não-comum separam-se indefinida e eternamente como que duas linhas perpendiculares, cada uma seguindo seu caminho. Um dia se encontraram na fantasia de quem copia por uma ânsia qualquer de ser quem nunca poderá ser de verdade, mas jamais se encontrarão, como Coca e Pepsi.

Um comentário:

Silizi disse...

Muito bom!
Interessantissimo.